segunda-feira, 24 de outubro de 2011 2 comentários

Rasura


Palavra escrita, palavra riscada.
Rasura.
Frase completa. Pensamento incoerente, raciocínio não concluído.
Rasura.
Parágrafo quase inteiro... Do começo de novo.
Rasura.
As palavras não são mais aquela engrenagem que costumam ser.
Não tem mais o peso que costumavam ter.
Rasura.
E eu aqui... Sem ter o que preciso, sem ter o que expressar...
Rasura.
Fraca, frágil, crua, menina.
Rasa.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011 2 comentários

Culpa

É pecado você não saber o que eu sinto, à distância, quando o meu pensamento te toca. Me pego sôfrega e ofegante em todas as partes do dia. Fecho os olhos para encontrar teu sorriso safado indo de encontro ao meu ouvido para sussurrar que eu te enlouqueço, enquanto tento disfarçar o quanto de mim já perdi no desejo de te ter colada ao meu corpo.
Abro os olhos para me perceber lambuzada na magia erótica em que você me aprisionou. Sinto o coração pulsando no lugar errado: muito abaixo do peito; na futura casa teus dedos; no meu lago de pecados sentimentais.
O dia passa, mas não a tua lembrança.
Te carrego nas veias, esquentando o meu corpo, passeando em meu sangue. Suspiro gemidos e saudades. E me arranho o corpo, mordo os meus lábios, esfolo a pele. Simplesmente, enlouqueço nas ilusões táteis dos teus mamilos roçando nos meus.
E toco o meu corpo como se ele fosse intocado. Com a voracidade de quem precisa salvar a própria vida. Tremo como se fossem os teus dedos a invadir o meu corpo. E desabo de cansaço.
Então, sorrio pros teus olhos, à distância, esperando que você receba uma carta de tesão e afeto por telepatia. Descanso o corpo na cama, abraçando o nada. Desejando o teu corpo materializado no meu.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011 1 comentários

Ontem

A vontade é o alicerce da vida
E de repente eu senti o alicerce gritar forte.
Ela é mais forte...Ela sempre é mais forte
E quando menos esperei o fogo já estva aceso
Eu me senti novamente perto do fogo
Com a boca seca
Com a mão dormente
Tudo mais colorido...divertido
Vontade de ter amigos queridos por perto...amigos que se foram, que estão viajando, que não conheço...
A vontade é tão forte que aperta a garganta.
E mais fogo, mais fumaça e fome e sono
E vontade de não estar mais sozinha
Cazuza me fez companhia pelas ruas molhadas e com cheiro de verde
Até as ruas secas com cheiro de amarelo
E mais uma vez estava embaixo daqueles arcos que testemunharam tantas aventuras
Arcos que giraram coloridos pra mim essa noite
E as meninas giraram...
Os companheiros de farra giraram
O mundo ficou suspenso, o tempo parou. Cazuza se enganou.
Ele parou eu estava lá!
O cheiro da vontade ficou mais forte
Pra mim tudo nunca é o suficiente
Impossivel viver feliz sempre insatisfeita.
A vontade de ser certinha apareceu, ela não tinha sido convidada
Mas junto com ela veio a vontade de ir embora
Morrendo de medo de se deixar dominar por outras vontades
Elas sempre voltam...
E agora é só esperar...
domingo, 9 de outubro de 2011 0 comentários

cant think


Você me olha e aquela coisa de respirar já não é mais comigo. Presta uma atenção irreal ao que eu falo, os dois olhos fixos em mim e num repente eu me sinto tão interessante que quase não dá pra acreditar. Afinal de contas, você é você.
A inquietude de menina da cidade grande contrastando quase que como mágica com a serenidade do teu jeito de me olhar.
Perco o rumo, as palavras e o assunto. Alguém passa por nós e os meus olhos acompanham numa tentativa de buscar o fôlego pra falar seja lá o que eu estava pensando, mas não consigo mais concluir o raciocínio.
Alguém já te disse que é difícil pensar com você por perto?
sexta-feira, 7 de outubro de 2011 0 comentários

O meu príncipe


Por que você está chorando Lalá?
Me senti molhar até a alma nos dois mares de chocolate contornados por praias de cílios muito negros. Negros como os meus.
Um tom de pele e um ou dois cromossomos diferentes dos meus. A mesma fonte, os mesmos gostos, a mesma fome de saber mais, sempre mais.
O príncipe dos meus contos de fada, ainda que ele não soubesse, e eu lhe prometi comprar um cavalo branco tão logo nós conseguíssemos lugar pro cavalo poder correr.
Eu ainda conseguia coloca-lo no colo. Apertar, apertar, apertar, apertar sem que ele reclamasse (muito).
Eu lhe cedia o controle da televisão e o meu colo, quando ele achava que o sofá era um tanto quanto desconfortável demais pra acomodar a grandeza dos sonhos infantis.
Por que você está chorando, Lalá?
Ele sempre repetia quando achava que eu não estivesse ouvindo. Sem caras feias, sem impaciência, sem cobranças e sem julgamentos. Só repetia.
Eu estou chorando porque você é pequenininho e porque eu sou pequenininha também, meu amor. Porque eu queria ser do tamanho do mundo pra proteger você.
Lá fora é frio e tem gente feia. Aqui dentro é quentinho, tem chocolate e desenho na TV. Mas se a Lalá não for lá fora, nunca vai dar o valor que deve dar pro chocolate que você divide com ela.
Mas a Lalá não vai ficar lá muito tempo... Se ficar, eu dou um jeito de vir te ver sempre.
Então você precisa ser moço grande e responsável. Precisa cuidar da mamãe, porque a mamãe precisa de cuidado. Tem que ser forte por nós três. Por mim, por você e por ela.
A Lalá não está chorando... E nem vai chorar mais.
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Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

(Cecília Meireles)
domingo, 2 de outubro de 2011 1 comentários

Navio pirata.


E lá estava eu, de pé no meio daquele santuário que ela insistia em macular com um pecado que tinha sido tirado de um maço quase intacto. Um maço de pecados que ela prometeu não tocar mais.
Aquele era o meu lugar, a minha casa. Ela não tinha o direito de sujar a minha inocência e não o tinha feito até então. Mas enquanto eu a olhava brincar com a fumaça insistindo em me ignorar, eu pude ver que ela estava tão perdida quanto eu.
Eu não estava acostumada com aquilo.
Ela sempre cuidou de mim. Quando as amizades dela tiraram os meus amores, quando os meus amores tiraram as amizades dela. Ela sempre cuidou de mim.
Mas e agora, que nos tiraram a nossa alma gêmea?
Eu continuava a olhar para ela, em busca de respostas. Esperando que ela me dissesse que tudo ficaria bem. Mas a única coisa que ela continuava a fazer era me ignorar (e brincar com a fumaça) e o desespero começou a me ameaçar.
Olhei em volta, tentando em vão engolir o nó na garganta e consegui sua atenção. Olhou pra mim e eu me calei. Nos encaramos em silêncio, e ainda nos encarávamos quando o pecado se transformou em apenas um amontoado de cinzas.
Então ela se levantou. Me pegou pela mão. Entramos no meu santuário.
Na geladeira, o meu próprio estoque de pecados. Pecados que me custam uma briga com a balança desde a adolescência. E então foi a vez dela me assistir pecar. Só algumas boas calorias mais tarde, ela voltou a me conduzir.
O banho frio foi muito bem vindo. Levou o peso da culpa. Deixou a insegurança.
O que nós tinhamos acabado de perder não era uma amizade ordinária, mas também não tinha a malícia que envolve os outros sentimentos. Exatamente o tipo de coisa que o ser humano, envenenado pela serpente, não consegue entender.
Quando você acha outra cabeça sua em um corpo distinto, é fácil se apegar. Afinal de contas, é você. Você se conhece, não? E se não conhecer, olhando de fora é com certeza muito mais fácil de se fazer.
Eu sabia que ia acontecer. Mais cedo ou mais tarde, ia acontecer.
Ela me avisou quando começou... E está me avisando agora que a solidão intelectual vai voltar a machucar, com o dobro da força que machucava antes.
Ela me avisou que ia acontecer... E ela tinha razão. Ela sempre tem razão.
Ela. Eu. Nós.
Storm. Menina sem nome. Larissa.
Acho que é hora de deixa-la tomar conta das coisas por um tempo.
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EU EU EU


É engraçado. Eu me pego parada, olhando pra tela do computador,
esperando fazer a vida fazer sentido. Esperando o texto se escrever
sozinho. Esperando as coisas simplesmente se resolverem.

Não é do meu feitio. Sou forte, todo mundo dizia isso. Mas às
vezes cansa. Especialmente quando tudo parece bem, acordo de bom
humor e ri e conversa, mas alguma coisa ainda incomoda.

Uma coisa na qual ela prometeu dar fim. E que insiste em gritar que
ainda está ali. Droga. Pior que sujeira em copo de bar. Bares que,
aliás, eu me prometo voltar a freqüentar pra não virar essa tia
velha e saudável.

Ugh.
 
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